sexta-feira, 15 de abril de 2011

Entre dois amores


A culpa e a angústia acompanham escolhas que muitas vezes nunca serão feitas



Recentemente, a Rede Globo estreou a nova temporada do seriado “Aline”, no qual uma jovem vive com dois namorados numa boa. Mas diferente da ficção, estar entre dois amores tende a ser uma das escolhas mais angustiantes para quem precisa optar por um só.
Começa com um conflito entre emoção e razão: a emoção diz sim para os dois amores, mas a razão tenta seguir as regras sociais da monogamia”, diz Ana Canosa, psicóloga, terapeuta sexual e diretora da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana.
Para o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos, o principal sentimento experimentado é a angústia. “A confusão de pensamentos, que mais parece um balanço infernal, gera muita ansiedade e até depressão”, diz o profissional, que assina obras como “Ciúme – O Lado Amargo do Amor” (Editora Ágora). Ele ainda ressalta que a culpa pode ocorrer caso a pessoa tenha convicções muito fortes em relação à monogamia e não aceite essa ambiguidade.
E não adianta fugir. Quase todos nós passamos por isso pelo menos uma vez na vida. Segundo Ferreira-Santos, é natural amar romanticamente duas pessoas ao mesmo tempo, o que não ocorre igualmente com a paixão. São nas fases fragilizadas do relacionamento que ficamos mais suscetíveis a olhar para outras pessoas. “É questão de ‘dar corda’ ou não. Às vezes fica difícil manter-se distante diante de tanta atração. Mas é importante atentar para a diferença entre amor e sexo. A energia sexual é criativa, curiosa; a do amor é de bem-estar, de compromisso, companheirismo. É comum continuarmos amando alguém e sentirmos forte atração sexual por outra pessoa ao mesmo tempo”, como explica Canosa.

Vale lembrar que o sexo não é o único fator que deve ser levado em conta na hora de decidir com quem ficar, como pondera Ana Canosa: “O que se compara é incomparável, visto que geralmente os dois amores são pessoas muito diferentes que têm qualidades distintas. Então, para quem tem que escolher, há que se priorizar o que é mais importante para a convivência além do sexo, como companheirismo, valores, etc.”.
Para aliviar a culpa, um pouco de teoria: de acordo com os especialistas e estudiosos, não nascemos monogâmicos. A monogamia seria uma condição moral e religiosa que, em certa altura da história, teve de ser imposta para que os homens pudessem viver em sociedade. Mas se ainda assim, diante de tal fato, a angústia insiste em não dar folga, saiba que uma escolha – seja ela qual for – pode não aliviar muito a barra. Escolher envolve abrir mão, arriscar-se e, acima de tudo, ser honesto com as três partes envolvidas

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