Ainda se sabe muito pouco sobre os trabalhadores que lutam para controlar a temperatura e o vazamento de radiação da usina nuclear de Fukushima. Aos poucos, informações pequenas, mas que dizem muito sobre a realidade de cada um dos funcionários, que já são considerados heróis pela população japonesa, são reveladas.
No caso da troca de e-mails, o nome de nenhum dos dois funcionários foi revelado. Sabe-se, porém, que as correspondências são verdadeiras, já que tiveram a veracidade confirmada pela Tepco.
No primeiro e-mail enviado, o funcionário de Fukushima mostrou ter uma força de vontade fora do comum para recuperar a usina. No entanto, ele manda um recado a todos os que estão assistindo ao trabalho dos trabalhadores.
“Só quero que as pessoas entendam que existem vários funcionários lutando sob circunstâncias duras na usina”, disse. “Chorar de nada adianta. Se estamos no inferno, precisamos caminhar em direção ao céu”, completou.
Já no segundo e-mail enviado, o funcionário muda um pouco o tom. Mais dramático, ele passa a revelar parte de seu drama pessoal. A maioria dos funcionários vive na região da usina, que foi bastante destruída pelo terremoto e tsunami. Por isso, além do intenso estresse da operação de salvamento da usina, eles também têm de lidar com a perda de parentes, da própria casa e com o futuro incerto da família.
“Estamos trabalhando na usina sem dormir ou descansar desde o terremoto. Duas semanas já se passaram e algumas coisas melhoraram no primeiro andar. No entanto, como você sabe, a maioria dos funcionários mora na região e também é vítima do terremoto. Muitos perderam a própria casa no tsunami”, contou.
Então, o autor do e-mail começou a contar seu próprio drama. “Eu tive de ficar no quartel-general o tempo todo, lutando, ao lado de meus colegas, sem dormir ou descansar. Minha cidade-natal, Namie-machi, fica na costa e foi devastada pelo tsunami. Meus pais sumiram e não sei onde eles estão. Não posso, nem ao menos, entrar na cidade, já que existe uma ordem de evacuação. As Forças de Defesa não estão fazendo buscas. Mas, eu estou engajado no meu trabalho duro sob essa condição psicológica... não agüento mais”, revelou.
O funcionário revela estar chateado com a Tepco e acusa a empresa de ter causado o problema na usina. “O terremoto é um desastre natural. Mas a Tepco é culpada pela contaminação causada pelo material radioativo que vazou na usina”, disparou.
O autor do e-mail pede para que o funcionário, em Tóquio, compartilhe as informações com todos, e lembra, novamente, que os trabalhadores da usina perderam tudo o que tinham, mas continuam trabalhando.
“Estamos trabalhando duro para completar nossas tarefas como trabalhadores, antes de pensarmos em ser vítimas do desastre. A realidade aqui é de uma zona de guerra. Os funcionários trabalham no limite mental e físico”, explicou.
Chorar de nada adianta. Se estamos no inferno, precisamos caminhar em direção ao céu
Estamos trabalhando na usina sem dormir ou descansar desde o terremoto.
0 comentários on ""Trabalhamos no limite. Isso é uma zona de guerra", diz funcionário da usina de Fukushima"
Postar um comentário